O remédio lorcasserina — utilizado como tratamento contra a obesidade e até então vendido com o nome comercial de Belviq — deixou de ser comercializado no Brasil e no mundo. Isso porque uma pesquisa ligou o fármaco a um aumento no risco de alguns tipos de câncer. Ele é da farmacêutica japonesa Eisai e vinha sendo distribuído no nosso país pela Eurofarma.
No dia 13 de fevereiro, a Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula o setor farmacêutico nos Estados Unidos, publicou uma revisão de dados de um estudo feito com 12 mil pessoas. Metade tomava a droga, enquanto a outra recebia um placebo. Os voluntários foram acompanhados por um tempo médio de 3,3 anos.
Batizado de CAMELLIA-TIMI 61, a investigação buscava originalmente avaliar o potencial risco de a droga causar problemas cardiovasculares. No entanto, acabou registrando um desequilíbrio no número de casos de câncer entre os grupos. A incidência de tumores no pâncreas, pulmão e reto foi de 7,7% na parcela que utilizava lorcasserina, ante 7,1% em quem recebeu o placebo.
Isso fez a Eisai retirar o produto do mercado nos Estados Unidos. A Eurofarma fez a mesma coisa no Brasil.
A diferença nos números, embora de fato exista, é pequena. Segundo os especialistas, a decisão de suspender as vendas foi tomada mais por precaução.
“O mecanismo pelo qual esse remédio pode causar câncer não está estabelecido e a diferença na incidência entre as pessoas que o usaram é mínima”, reforça Mario Khedi Carra, presidente da Associação para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
A pesquisa analisada pelo FDA foi observacional. Ou seja, só comparou dados disponíveis entre a utilização da lorcasserina e o risco de câncer, sem comprovar um elo de causa e efeito entre eles. “Fora que se tratava de um estudo para avaliar o risco cardiovascular, então uma parcela considerável dos participantes era fumante, obesa e tinha outros fatores associados ao câncer”, pondera a endocrinologista Cintia Cercato, também da diretoria da Abeso.
Ao tomar uma decisão do tipo, os cientistas e as autoridades avaliam a relação risco-benefício do medicamento. “Como a perda de peso proporcionada pela lorcasserina é modesta e houve essa associação com o câncer, ainda que pequena, o uso é suspenso até que se compreenda melhor o caso”, esclarece Cintia.
Vale ressaltar também que a recomendação de parar com as vendas inclui a versão manipulada do medicamento. Ela é comercializada e prescrita numa espécie de mercado paralelo, uma vez que a Eisai ainda detém os direitos exclusivos do princípio ativo.
O histórico da lorcasserina
Estamos falando de uma medicação que atua nas áreas do sistema nervoso central responsáveis pela sensação de saciedade. Ela interfere mais especificamente nos receptores de serotonina, um neurotransmissor importante que controla mecanismos que aumentam e diminuem a fome.
Existem outros tratamentos com ação semelhante — voltados, por exemplo, para a depressão —, mas nenhum havia sido vinculado com tumores até então. “É mais um motivo para interpretarmos os achados com cuidado”, comenta Cintia.
A lorcasserina foi aprovada em 2012 no Estados Unidos e em 2016 no Brasil para a perda de peso. Porém, questões logísticas fizeram com que ela só chegasse às prateleiras do nosso país em outubro de 2019. Em resumo, o laboratório japonês precisou arranjar um parceiro local para a distribuição.
Esse medicamento surgiu como evolução dos princípios ativos dexfenfluramina e fenfluramina, já retirados do mercado pela associação com problemas no coração. Aparentemente segura para a saúde cardiovascular, a lorcasserina agora passará por mais testes.
Fonte: Msn - Saúde
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